Amor aqui, desamor lá

Na última passagem por Santa Maria, Bernardo demonstrou felicidade

Se foi no noroeste do Estado que Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, morreu cruelmente assassinado, foi em Santa Maria que a vida dele se iniciou. Era no Coração do Rio Grande que ele distribuía abraços à madrinha Clarissa Oliveira e à avó materna Jussara Uglione e se dizia feliz. Tudo antes de o corpo dele ser encontrado, no último dia 14, em Frederico Westphalen. O pai, Leandro Boldrini, 38 anos, a madrasta Graciele Ugolini, 32, e a assistente social Edelvania Wirganovicz, 40, estão presos temporariamente suspeitos do crime.

A história do menino começou a ser traçada quando os pais dele se conheceram no Husm. Odilaine Uglione era auxiliar de Enfermagem, e Leandro, estudante de Medicina da UFSM, formado na turma de 1999. Odilaine morreu em 2010 aos 32 anos. A mãe dela, Jussara Uglione, era contra o namoro e não gostava do genro. Por isso, o casal foi embora para Campo Novo, cidade natal de Leandro.

O município fica a cerca de 50 quilômetros de Três Passos, onde o casal foi morar quando Bernardo ainda era bebê. Eles ficaram casados por cerca de um ano antes do nascimento do menino.

Bernardo nasceu no Hospital de Caridade em 6 de setembro de 2002. Em seguida, foi levado para o noroeste gaúcho. Após, a avó se mudou para Capão da Canoa. Jussara só conheceu o neto quando ele já tinha 3 anos. A partir de então, as visitas foram mais frequentes entre Capão da Canoa e Três Passos. Jussara chegou a ficar por duas vezes na casa da filha para tratamento de saúde, em 2005.

Após a morte de Odilaine, Leandro não teria mais permitido que a avó visse o neto. Segundo Jussara, no mesmo dia da morte de Odilaine, a filha assinaria o divórcio e pretendia procurar uma casa em Santa Maria onde ela, Jussara e Bernardo pudessem morar e ter vários cães. Depois, a avó conseguiu ver o neto uma única vez, em 2010. Ela só reencontrou Bernardo em janeiro deste ano, quando o menino esteve em Santa Maria para visitar a madrinha, Clarissa. Ele chegou dias antes da virada do Ano Novo, passou o Réveillon com a família dela e ficou na cidade até 10 de janeiro. No Facebook, publicou fotos de Santa Maria, dizendo que estava feliz.

Jussara diz que foi surpreendida pela ligação do neto avisando que estava na cidade. Ela passeou com o menino no shopping, eles compraram um tênis na lojas Eny, buscaram uma agenda na Uglione (empresa fundada pelo pai de Jussara) e foram ao Cemitério Ecumênico Municipal ver o túmulo de Odilaine. De Santa Maria, Bernardo foi para Capão com a madrinha e a família dela. De lá, postou imagens na praia.

Em Três Passos, a indiferença do pai

A morte de Bernardo revoltou a todos, mas não se pode dizer que surpreendeu quem conhecia a relação do casal com o menino. Em Três Passos, ele era ignorado pelo pai e odiado pela madrasta. Quando Odilaine morreu, Leandro teria dito que queria uma vida nova.Mas, na primeira comunhão de Bernardo, em Três Passos, em 24 de novembro do ano passado, ninguém da família estava presente.

Andréia Oliveira Küntzell, que via Bernardo pelo menos três vezes por semana, ficou revoltada com a ausência do casal na cerimônia. A decepção foi enorme também para outra mãe postiça do menino, a técnica em Enfermagem Nelda Maria, a Bugra. Católica, ela o convenceu a frequentar missas.

No Colégio Ipiranga, onde cursava o 6º ano do Ensino Fundamental, ele preferia ficar com as meninas porque era ridicularizado pelos meninos por ser atrapalhado. Mesmo sem ligar muito para futebol, o gremista Bernardo confidenciava a amigos um sonho: que o pai o levasse à Arena.

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